Semana "Heróis do Fogo" - História do Corpo de Bombeiros no Mundo.


Há mais de 500 mil anos antes de Cristo, o primeiro homem aprendeu as utilidades do fogo. Junto com elas, certamente esse primeiro ser humano sofreu também as suas primeiras consequências. Na Grécia antiga, dizia-se que foi o titã Prometheu, quem trouxe do Olimpo a primeira tocha: era o fogo domesticado, mas foi mesmo a cultura humana que não apenas assimilou perfeitamente este elemento, como se tornou amplamente dele dependente. Sem o fogo, a sociedade moderna não consegue ir adiante: quase tudo que se faz hoje depende do fogo ou é resultado das artimanhas impostas por sobre os materiais pela sua força implacável.

Junto com o fogo surgiu a necessidade de se proteger contra o seu aspecto negativo. Os acidentes e os incêndios tornaram-se mais graves na medida em que as cidades e os aglomerados urbanos cresciam. O resultado foi o surgimento dos primeiros grupos de pessoas que viriam a se tornar os modernos bombeiros. Essa história é uma saga que nos leva aos primeiros registros de proteção contra o fogo.

PRÉ-HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS NO MUNDO

O famoso Código de Hamurábi, um dos mais influentes códices da humanidade, já fazia menções à importância da proteção e da responsabilização por incêndios no mundo. O artigo 25 do código diz: "Se acontecer um incêndio numa casa, e alguns daqueles que vierem acudir para apagar o fogo esticarem o olho para a propriedade do dono da casa e tomarem propriedade deste, esta(s) pessoa(s) deve(m) ser atirada(s) no mesmo fogo que queima a casa". A recomendação é de que o socorro deve ser o mais limpo e desinteressado possível, um valor que até os dias atuais é muito prezado e faz do corpo de bombeiros brasileiro a instituição mais confiável dentre as demais no Estado por vários anos seguidos.

Foi encontrado na Mesopotâmia (atual Iraque) um vaso de alabastro no qual retrata-se uma cena do que provavelmente é um combate a incêndio realizado naquela época por volta de 850 a.C, o que prova que a preocupação com o controle do fogo e o combate a incêndios é algo que remonta à época dos zigurates, primeiras cidades que a sociedade humana conheceu.

Na China existiam muitos predecessores de coisas modernas, Marco Polo que o diga. Mas em documentos e registros históricos pictográficos (gravuras) foram encontrados vestígios do que seria um corpo de bombeiros civis organizado, isso por volta de 564 a.C. As casas naquela época eram de materiais de facílima combustão, daí a importância de um controle eficiente de chamas.

Em 250 a.C foi desenvolvida pelo grego Ctesibius a primeira bomba portátil, que servia para lançar água pressurizada e, dessa maneira, debelar incêndios com mais eficiência. Mais tarde um sábio de Alexandria chamado Heron, aprefeiçoou o sistema e desde então o sistema praticamente não sofreu alterações drásticas.

A bomba de Ctesibius, a primeira bomba utilizada no combate a incêndios no mundo.
Roma, cidade de conquistadores, também entendeu a importância de desenvolver um sistema de combate a incêndios, principalmente depois do grande incêndio, que a devastou em 27 a.C, e que, dizem, serviu apenas para atender aos interesses políticos dos césares da sua época. Em 1º a.C, a cidade organizou o primeiro Grupamento de Bombeiros, que era formado pelos cidadãos aposentados da cidade. Mas em 70 a.C o Cônsul Crassus criou a primeira brigada de incêndio, que já era uma precursora dos modelos atuais.

Ainda em Roma, no ano de 24 a.C foi registrada uma brigada de incêndio formada por  escravos particulares e que atendia aos diversos cidadãos que podiam pagar uma espécie de tributo para tal. Na época, o nome do responsável pela iniciativa registrado nos anais da História era o do inspetor de política Rufus.

Em 21 a.C, o imperador Augustus forma uma brigada especial contra incêndio para a sua defesa particular. Esses brigadistas provavelmente permaneceram de prontidão, protegendo tanto as posses quanto a  vida do imperador em caso de incêndio. Ela era composta por cerca de 600 escravos.

Representação de como seria um escravo bombeiro romano.
Em 1 a.C Roma institui também os primeiros legionários brigadistas, que tinham como finalidade, a proteção da cidade de Roma, mas também dos demais espaços políticos importantes do império, desde que se situassem em zonas de risco, o que geralmente acontecia em áreas muito afastadas da capital.

No ano 6. dC, este sistema se aperfeiçoou, formando o primeiro corpo de bombeiros nos moldes semelhantes aos atuais. Quando por esta época, a instituição contava com cerca de 7 mil homens, divididos em 7 coortes e que tinham por finalidade promover a proteção do império e das suas posses contra o fogo acidental ou criminoso. Eles eram conhecidos como Cohortes Vigilum, e desempenhavam com parâmetros militares, as suas funções.

Mas não apenas Roma tinha esse tipo de precaução. Na Grécia também existiam, por volta do  27º século antes de Cristo, guardas-sentinelas preparados para o caso de haver incêndios nas principais cidades.

HISTÓRIA CLÁSSICA DO CORPO DE BOMBEIROS NO MUNDO

A história do Corpo de Bombeiros no em seu desenvolvimento encontra a fase clássica a partir  dos anos 1000 d.C, e é classificado pelo Coronel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Asdrúbal da Silva Ortiz em três fases importantes: a fase Portuguesa, francesa e portuguesa, a qual abordaremos a partir do próximo post. Lembrando que o citado coronel é referenciado como historiador do Corpo de Bombeiros.

A fase portuguesa tem seu principal marco em 1395 com a criação da primeira brigada de incêndio de cidadãos, criada por Dom João I. O interesse era que os cidadãos portugueses estivessem aptos a combater incêndios residenciais e comerciais, um reflexo do conhecimento do que outras tragédias no continente europeu proporcionou. Em 1886 é surgido em Lisboa o primeiro grupo chamado Associação de Bombeiros Voluntários. Mais tarde, em 1930, surge a Liga dos Bombeiros Portugueses, para em 1979 instituir-se o Serviço Nacional de Bombeiros, que congrega os bombeiros militares, civis e profissionais voluntários.

O período português foi muito influenciado também pela escola francesa. Este modelo foi instituído por Dom João VI em 1678. Mais informações sobre o desenvolvimento desse trabalho ao longo da História, com dicas muito importantes e curiosas, vale a pena conferir o Site Oficial, na aba "Histórico" do referido site (no fim do post).

O período francês começa com a instituição dos Gardes Pompes, criado pelo general Pierre Morat, em 1763, que não tiveram a eficiência desejada pelo seu idealizador. Isso se deu de forma tão explícita, que, em 1792, Napoleão Bonaparte semi militarizou os Gardes Pompes, passando a se chamar Compagnie de Pompes Publiques, eram um total de sete companhias, que, somadas, eram compostas por 270 homens, que desfilaram pela primeira vez em 1875. Cita o Coronel Asdrúbal que esses soldados, pouco tempo depois "relaxaram" na disciplina, posto não serem completamente militares, o que determinou um enfraquecimento moral desta nova instituição.

Um fato marcante foi determinante para o desenvolvimento do Corpo de Bombeiros no mundo: o grande incêndio na Embaixada da Áustria, ocorrido no ano de 1810, que foi também uma notável vergonha para o general Napoleão. O incêndio, que ocorreu durante um evento organizado pelo próprio, matou diversas pessoas da nobreza, feriu outras tantas e serviu como prova de que os novos bombeiros não eram ainda dignos da confiança de tão complexa e importante missão. Em decorrência desse fatídico evento que, em 11 de setembro de 1811, Napoleão decide de uma vez, militarizar os bombeiros franceses, destacando a tradição para todo o mundo. Atualmente no mundo, quase todos os corpos de bombeiros são associados ao militarismo. Naquele ano surge o Batallion de Sappeurs Pompiers, controlado pelo ministro do interior. Eram 570 homens que viviam sob rígida disciplina militar e pela primeira vez eram pagos pelo serviço prestado.Na época existiam quatro companhias dirigidas por chefes de polícia.

Incêndio na Embaixada da Áustria: divisor de águas no contexto do Corpo de Bombeiros francês.
Providencial determinação teve Napoleão. Em 1818, durante incêndio ocorrido no Comedie Française, um teatro clássico francês, o novo corpo de bombeiros militares entrou em ação e de cara enfrentou um sério problema: a falta de água. A solução deu-se por uma via inusitada: o vinho. Milhares de litros de vinho foram cedidos pelos comerciantes mais abastados. Esse vinho preencheu os carros-pipa utilizados pelos bombeiros e foi despejado sobre o fogo, que foi completamente controlado, para a alegria de todos que assistiam ao evento. Tal ação repercutiu ao longo das décadas. Em 1821 o corpo de bombeiros, embora sob o comando dos chefes de polícia, passa a ser integrado às forças armadas. No ano seguinte (1822), passam os bombeiros a ser militares por completo, passando a ser comandados por um coronel do exército, atuando tanto em tempo de paz quanto em tempos de guerra, isto porque as habilidades com o material de sapa (utilizados para o desbloqueio de obstruções em estruturas sinistradas) era adequado para o desarmamento e detonação controlada de minas e granadas abandonadas pelo inimigo nos fronts de batalha. Curiosidade da época: havia já, como atualmente, um grupo tático específico para o controle e desenvolvimento de desarmamento de artefatos bélicos no contexto do corpo de bombeiros. Os bombeiros franceses tiveram determinante atuação na 1ª e 2ª Guerra Mundial.

Aspecto atual do Comedie Française.
A tradição de primar pelo preparo físico dos bombeiros surge durante a segunda Revolução Francesa, nos anos de 1830. Nessa época, a disciplina militar foi intensificada e a principal consequência foi a integração de rotinas de exercícios mais rígidos e treinamentos intensos voltados ao atendimento ao público e à atuação em conflitos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando invadiram Paris e tomaram o controle da Franca, os militares alemães desmantelaram todo o exército francês, abalando a estrutura militar daquele Estado, menos o corpo de Bombeiros, que continuou militar, porém sob domínio do Regimendo Sachsen de Engenharia, um reconhecimento da importância da disciplina militar para a gerência e operacionalidade dos corpos de bombeiros. Em 1944 os bombeiros franceses se veem entre fogo cruzado durante o incêndio do Grand Palais, quando os alemães ateiam fogo no prédio, o que requer graves negociações com os bombeiros, até que, três horas depois, os mesmos conseguem autorização para o combate ao incêndio. Poucos dias após o evento, após graves desentendimentos com os alemães, os bombeiros são hostilizados em ação mais uma vez. Com o fim da guerra, o reconhecimento dos bombeiros foi intenso, e em 1965, o Batalhão de Sapadores Bombeiros integra-se à Arma de Engenharia do Exército. Foi um final de década glorioso para a corporação.

Em 1967, o Batallion des Sapeurs Pompiers é integrado ao Exército nacional, passando então a se chamar La Brigade des Sapeurs Pompiers, tendo então o controle estabelecido por um general e ampliado em grande portento seu número de soldados efetivos, passando a ser 6 mil homens distribuídos em 78 centros de socorro especializados na atividade do corpo de bombeiros. Filha desse movimento foi a Defesa Civil, ou Corps de Defense. Que, naquele ano, contava com 462 pessoas na realização do seu trabalho. Criou-se também as colunas móveis de socorro, ou brigadas especiais que tinham como objetivo atuar em incêndios florestais, ajuda humanitária em território nacional e no estrangeiro, bem como calamidades públicas onde quer que ocorressem. Até hoje, seguindo tal modelo, muitas organizações humanitárias dispõem de órgãos destinados a esse tipo de ajuda e que são de excepcional valia para o trabalho auxiliar aos corpos de bombeiro no mundo.

Em 1968 é criada a primeira Unidade de Instrução de Segurança Civil. Este órgão tinha por missão capacitar civis para o trabalho dentro das atividades desenvolvidas para a sua segurança em sinistros de grande porte, como incêndios e calamidades públicas, na prevenção e no combate a acidentes de diversas potencialidades. Em 1981 cria-se o primeiro quartel para a defesa civil, coordenado pela brigada de Bombeiros Militares. Os bombeiros civis ainda estão sob o comando do Ministro do Interior (desde 1811), porém a sua coordenação e subordinação deve-se aos comandos dos bombeiros militares.

Desde os anos 2000, só a capital francesa conta com mais de 7 mil homens integrando os bombeiros militares, além da defesa civil que atua, em seus diversos órgãos, de forma integrada com os bombeiros militares, sempre sob a supervisão destes últimos para assegurar a eficiência e segurança das atividades. Os bombeiros militares recebem formação em nível oficial e de combatentes ainda dentro dos modelos militares, dada a tradição e os riscos reais de uma atuação ostensiva naquele contexto e a Brigada de Sapeadores Bombeiros existe até os dias atuais, de onde advém (assim como da Academia de formação e da Arma de Engenharia do Exército) boa parte dos seus oficiais.

CONCLUSÃO

A atividade dos bombeiros no mundo surge a partir da necessidade de controlar e prevenir acidentes. A perícia e a habilidade que são características fundamentais da corporação são o resultado de muita experimentação e desenvolvimento de técnicas e respeito às normas de lealdade, união e disciplina, que são o distintivo da corporação. Ao longo dos anos, a integração com os civis, e o desenvolvimento da chamada Defesa Civil promoveu uma maior abrangência da ação dos bombeiros, e também uma máxima: a de que a colaboração de todos é essencial para o bom andamento de todas as atividades relacionadas à segurança pública de um modo geral. A proteção e a tutela do cidadão deve sempre ser a prioridade.

PARA IR ALÉM

Informações, divisão e principais ações sobre o corpo de Bombeiros de Portugal, vale conferir o site oficial dos Bombeiros de Portugal. CLIQUE AQUI.

Para conhecer mais sobre essa história com riqueza de detalhes e precisão de datas, pelo trabalho excelente do coronel Asdrúbal da Silva Ortiz, CLIQUE AQUI.

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