Todo mundo tem limites. O meu é o tempo em que preciso
parar, sair da rotina e me esconder atrás das cortinas para pensar, me
reencontrar. Já pensou estar no olho do furacão, sem ter pra onde sair e sem
suportar o barulho, a confusão? Tem dias que todo mundo se sente assim.
Pior é que a gente tende a inventar fugas, esconderijos
dentro da rotina de forma que ficamos lá por dias, anos até. Mas mesmo estes
esconderijos não nos são suficientes. Há quem prefira se sofisticar e
transferir à outras coisas, aquilo que lhes falta, o que lhes agrava ou ainda,
o que amam. Estas pessoas se escondem atrás da comida, tornam-se obesas; atrás
de falsa caridade, e acabam frustradas por não poder dar a outrem, as coisas
que nem mesmo elas têm e, por fim, há pessoas que não têm – ou podem –
capacidade de lutar pelos seus desejos, amores em todos os sentidos. Ficam
presas, ocultas em si mesmas: viram pessoas depressivas.
O barulho do cotidiano encobre a voz da nossa alma. Quando
não a ouvimos, acabamos perdidos na nossa própria rotina, autômatos, fazendo
sempre as mesmas coisas, porque assim aprendemos, porque assim somos
adestrados, fazemos sempre do mesmo jeito porque, no intimo, não temos coragem
de olhar pra trás e perceber onde a renúncia nos transformou em estranhos
dentro do próprio corpo.
E é este medo que nos tona cada vez mais omissos na própria
vida. No entanto, basta ouvir um pouco os
sinais do corpo. Ele nos diz diariamente o que devemos fazer. Cansaço,
sono, medo, em casos mais patológicos,
pânico, sentimento de perseguição, tudo são os indicativos do momento de parar,
de jogar as coisas pro alto e buscar apenas se reencontrar. O problema é que
estamos tão acostumados a nos esconder que, pra
que haja este reencontro, não é suficiente apenas a boa vontade, a força
motriz em si. Ajuda se você estiver
motivado a isto, mas se nunca houve uma experiência positiva neste sentido, é
quase certo que as coisas não vão acontecer.
Fechar os olhos e saber exatamente o que acontece é o
primeiro passo. Ouvir a batida do coração, sentir os órgãos internos funcionar,
ter carinho por si mesmo. Entender-se, sentir a própria pele, encontrar os
problemas realmente importantes e ver as pequenas situações são um importante
passo.
O segundo momento é experimentar-se. As pessoas passam muito
tempo experimentando outras pessoas, outras experiências, quando, na verdade
nem sequer sabem o que são de fato. Experimentar a si mesmo é menos complicado
e mais prazeroso do que parece à primeira vista. É só ir a um lugar tranquilo,
pode ser na sua sala ou ainda no intervalo do trabalho. Basta entender o que te
agrada ou não. Encare a parede à sua frente e entreveja quais os princípios
daquilo que te agrada, veja as pessoas que você não gosta e aquelas por quem
tem apreço, entenda todas as conexões. O corpo não tem necessariamente um
manual de instruções, então, cada resposta corresponde a um estímulo a uma nova
busca. Por fim, guarde na memória todas
as descobertas.
@mrsilvioh
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