Viver é um constante planejar. Acontece que a vida nos arrasta ao seu bel-prazer a lugares onde nunca pensamos estar inicialmente. Muitas vezes, ao confrontar a realidade adquirida com a que conquistamos, nos surpreendemos com o quão diferente saiu esta em relação àquela. Algumas vezes para bem, outras tantas para o mal. O certo é que dificilmente seus planos vão sair exatamente da maneira que você os planejou e pelo simples fato de que o mundo não é senão a junção de muitos planos interligados, muitas perspectivas de vida juntas e, claro, muitas possibilidades de resultados, a depender das combinações que se faz nessa grande loteria que é o planeta Terra.
É verdade que diante dos planos frustrados, dasalegrias perdidas, dos medos concretizados, o desejo de abandonar tudo é grande e muitas vezes a única coisa concreta que restou. A vida não dá moleza, mas, nossa capacidade de sobreviver também não. É verdade que desistir do jogo é melhor que tentar vencê-lo, porém, a desistência não leva a mérito nenhum e em qualquer derrota, além da derrota, há também uma nova realidade. O mal das pessoas é achar que com um fim vieram também todos os possíveis.
Mesmo destruído, qualquer um ainda é alguém. Mesmo esquecido, qualquer pessoa pode se fazer notada e mesmo quando se pensou que todas as possibilidades se foram, como já lembrava o Shakespeare, aí é que podem surgir muitas novas, melhores, mais instigantes e desafiantes que as que outrora nos aparentavam ser as nossas. A questão é apenas de ponto de vista. E de controle.
Porque o segredo na vida é saber manter o controle sobre as situações. Controle quando se está alegre, quando se está triste, quando se tem medo. Porque, mesmo diante da possível e iminente derrota, há a possibilidade, ainda que remota, de vitória. E se as coisas na vida não deram mais ou menos certo como imaginamos que seria,de certo é que algo que nós fizemos não saiu exatamente como se esperava que fizéssemos, não demos aquele mais, aquela hora , aquela palavra ou investimento. As pessoas semeiam o pouco e esperam colher o muito, ao passo em que aqueles que muito semeiam sequer esperam pelos frutos para iniciar a nova seara. Por mais que doa admitir, somos também a soma dos nossos erros, muitas vezes, mais até do que os nossos acertos.
Entra ano e sai ano, e os medos continuam os mesmos, as pessoas que conhecemos e que criamos vínculos envelhecem, vão-se, morrem, esquecem da gente. O amor de ontem é o estranho de amanha e o medo que outrora paralisava, hoje é etapa passada. Outro segredo de viver é não ter medo de perder. Já fui passional, me apaixonei por coisas, pessoas e situações erradas. O apego exagerado acaba gerando mais dor do que alegrias. Mesmo amor em excesso é também um mal.
O medo de perder pode ser enorme, pequeno, médio. O que ele não pode – nem vai – é inexistir porque é o mediador necessário à preservação do que é nosso. O medo de perder, no entanto não é a única motivação. A coragem, a nobreza e os demais defeitos e qualidades compõem uma enorme tela onde não deve haver espaço para o monocromático.
Já tive muito medo de perder as pessoas que amei, as coisas que conquistei, os momentos que vivi. Mas não posso me limitar a crer que eles são tudo –e só. Precisamos ter em mente que o maior dom, que é a vida, é transitório.
Não é o caso de dizer que há possibilidades de superação em todos os casos. Não. Há pessoas – e eu descobri isso com exemplos concretos retirados da minha vida – que simplesmente não vão superar o medo da perda. É um fato. Se a gente realmente ama estas pessoas, o melhor a fazer é não ter pena, nem tentar demovê-la do intento de temer, pois, o medo de perder na realidade na maioria das vezesé o escudo à realidade de uma perda que em algum momento já se consumou. É desumano tirar de alguém a pedra que sustentava seu edifício inteiro, na paráfrase da querida Cecília Meireles.
No que tange às perdas, entre nós e os outros, podemos determinar um sem-fim de possibilidades. Há pessoas que reagem melhor, há aquelas que nem tanto. Mas a verdade é que sempre olharemos para trás com saudade de coisas que não mais podemos ter. Também não teremos por perto todos os amigos de hoje e é provável que nem queiramos ter mais a maioria. Nossos medos, no entanto, sempre estarão lá.
Perder não é fácil nem é bom. É necessário. Como todo remédio que se toma nem sempre é agradável ao paladar, nem toda perda poderá significar uma coisa boa na vida da gente, nem algo a superar. Na verdade, quando se aceita o quanto antes as coisas que, de fato, não somos capazes de enfrentar, quase sempre elas mesmas mudam de rumo, delegando-nos uma história que, se não for mais feliz, pelo menos não será tragédia grega.
É assim que deveríamos passar a encarar as coisas, um dia após o outro. Sempre que o medo vier bater à porta, basta que deixemos entrar apenas as possibilidades, já que estas sim, determinarão o rumo que a barca da nossa vida tomará. Quanto ao medo, bem... há aqueles que são pra ser enfrentados, os que devem ser superados e aqueles que simplesmente existem, são necessários. Quanto a estes últimos, não basta esquecer ou superar, mas tão somente aceitar.
Silvio
@mrsilvioh
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