Às vezes procuramos nosso lugar no mundo em muitos lugares. Procuramos por ele nas ruas, nas pessoas, na faculdade, nos diversos recantos, mas não conseguimos encontrá-lo. Nosso lugar no mundo parece sempre estar muito distante de nossas mãos, ao mesmo tempo em que vivemos, pelo menos em momentos esparsos do dia, a sensação de que estamos perto, cada vez mais perto. Nosso lugar no mundo é, entretanto, tão misterioso quanto nossos desejos. Queremos tanto encontrar quem somos, onde estamos que, sem perceber, deixamos pelo caminho muitas pessoas e coisas importantes.
Assim, ao falar sobre coragem, decidi opinar sobre o que o tema, comparando a coragem a um cavalo. Você sabia que na antiguidade os cavalos foram uma arma de revolução? Sim. Os cavalos, sobretudo nas américas, foram tão impactantes que há relatos de culturas que se distinguiam entre a domesticação do animal ou não. Por isso, ninguém pode nos dizer exatamente o que é a coragem, ou pelo menos personificá-la melhor do que o cavalo.
Quando nascemos somos livres como esses animais. Em algum momento nos devíamos de nosso caminho, procuramos respostas às perguntas erradas e terminamos por temer a vida, w nos segurando em coisas ou pessoas. Esquecemos que temos tudo o que precisamos para ser feliz, esperamos que a felicidade que é umaresponsabilidade nossa, seja delegada a terceiros, o que é inadmissível, haja vista que não vivemos em vidas alheias. Crescemos pensando em competir e perdemos, a qualquer tempo a nossa liberdade. Nossos cavalos são, aos poucos domados, ensinamos-lhes truques baratos para viver em sociedade e, no fim, esquecemos o que fomos um dia.
Todo mundo nasce livre. Permanecer livre é o desafio. Não adianta promover o discurso de uma vida feliz se esta felicidade for apenas uma máscara, não ser realmente o que aparenta. As coisas não são medidas de acordo com a forma com que parecem, elas são tomadas segundo o que realmente são. Criar expectativas apenas acaba por agravar um problema que, mesmo sendo enorme, muitas pessoas insistem em jogar debaixo do tapete, como a poeira indesejável, sem pensar nas consequências que, sem sombra de dúvidas, virão.
Quando nos adestramos passamos a ver o mundo segundo os olhos dos outros. Não é à-toa que as pessoas que não vivem de acordo com a maioria das regras sociais impostas – já que não é possível de fato se alienar por completo – mas essas regras não são da nossa própria natureza, o que significa que, mesmo sendo necessárias, elas não são perfeitas, podem ser às vezes, quebradas., sobretudo se houver uma felicidade subjetiva no ato de burlar preceitos sociais (não confundir-se com preceitos morais e legais).
Nossos papeis sociais, por motivos diversos não dão conta da nossa real natureza. Por vezes caminhamos para uma realidade de frustração só porque desejamos se encaixar num padrão que, muitas vezes, nem sequer nascemos para cumprir. Regras de etiqueta, padrões estéticos absurdos, padrões comportamentais e inúmeras outras formas de repressão acabam por nos tornar cavalos cada vez mais domados, atrelados a arreios que só nos conduzem a caminhos conhecidos. Ser aceito numa sociedade para algumas pessoas, é mais importante do que estar em paz consigo mesmo, não se contentam tais pessoas com aquilo que nasceram, acreditam que as coisas que a sociedade mostra são uma necessidade vital, quando são apenas acessórios. Penso que a felicidade não depende de imposições. Ela é espontânea.
Nascemos cavalos, mas nossos destinos também nos mostram domadores. São as nossas paixões que acabam por ceifar do nosso espírito a liberdade com que nascera. Esquecemos do valor que temos em prol do valor de outrem. A realidade, entretanto, é que nem sempre amores são recíprocos – nem amizades às vezes são. A baixa auto estima, resultado de um pré trabalho de alienação social, acaba dando a impressão de uma falsa superioridade do ser amado em relação ao que ama. Quem não lembra das poesias parnasianas? E os poetas árcades? Todos tinham em comum o romancismo envolvido em jazer sob a figura de outro ser humano.
Supõe-se que viver sem amar é complicado, é infeliz, é traumatizante. Entretanto, como diz o ditado popular, o primeiro amor é o amor próprio. Não há como verdadeiramente amar ao seu próximo, se o seu amor por si mesmo não falar mais alto. Não confundir, entretanto, amor próprio com egoísmo. O primeiro conduz a um nível de igualdade dentre os envolvidos nas relações, a segunda apenas aliena um ao outro – e é geralmenteo sentimento mais trabalhado pela mídia de maneira perversa e irresponsável.
Amar é compartilhar. Talvez por isso não seja fácil. É difícil dividir com outras pessoas aquilo que nos pertence, nosso espaço, nossa vida. Por isso que, em se tratando de amor, as escolhas certas, muitas vezes, são sinônimo de renúncia.
Nascer e ser livre não necessariamente etapas normais no desenvolvimento de todas as pessoas. Seus cavalos são, desde cedo adestrados ao circo social, determinados a cumprir meros papéis. Mas a contestação necessária pode ser estimulada, haja vista que é dela que surgem as inovações. Contra o adestramento, só o melhor trabalho de conscientização. Pisar no chão, compreender o que é verdade do que é mentira na nossa sociedade e, principalmente, enxergar atênue diferença entre o real e o acessório na nossa vida. Só assim, com o passar dos anos, adquire-se a maturidade necessária aos futuros cavalinhos que, de certo, nos farão companhia na velhice, dependendo da nossa experiência e do s nossos sábios conselhos.
Silvio.
@blog_192001
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