Só um segundo


Você já pensou em quantos segundos cabem num dia? Mais –bem mais – de 80 mil deles. Cada segundo é insignificante em si mesmo, entretanto, juntos eles formam um dia inteiro. Cada segundo passa tão rápido que nem percebemos. Levamos mais tempo numa inspiração do que o passar de um segundo, entretanto, aquele segundo que se foi, nunca mais será seu. A gente desperdiça nossos segundos mas não desperdiça nosso dinheiro. O pior é que o dinheiro que se gasta, cedo ou tarde volta às suas mãos e tê-lo em excesso traz sérias consequências em mentes não preparadas para a riqueza. Entretanto, não podemos sequer somar um segundo a mais ao tempo de nossas vidas. E os segundos, caros amigos, continuam sempre insignificantes.

A vida se esvai assim: de segundo em segundo... lenta... constantemente.  Aliás, a característica mais marcante da vida é justamente essa: ser constante e nunca apressada. Quantos dias se passaram do dia em que você nasceu até hoje? E quantos deles foram passados num salto? Nenhum. Todos eles passaram, ou seja, já foram só um segundo após a meia noite. Entretanto, você se lembra de muitos dias, mas esquece de mais da metade deles. É impossível  guardar na memória todos os dias. Por isso, cada um precisa ser especial.

E sabem o que faz os dias serem especiais? Simples: o aprendizado. Cada um pode aprender e nem precisa de professores. Basta ouvir atentamente àquilo que nos dizem os nossos sentimentos, as nossas atitudes e os nossos medos. Somos um grande depositório de emoções e cada uma está lá por um motivo especial. Eu acredito que nascemos com características as quais jamais mudam. São nossas. Não se pode obrigar a alguém dócil a matar outrem. Eu seria incapaz de ferir a um inimigo, ainda que muitos deles já o tentaram fazer. Trago, como todo ser humano, muitas mágoas, mas dou limites a todas elas. Se algo não me faz bem, me afasto. Se acredito em alguém, sustento minha fé naquela pessoa, ainda que mais tarde o preço seja alto a pagar. Mas, no castigo ou na alegria, eu aprendo. Vivemos somando para morrermos sabendo. E o que se faz quando se morre? Não se sabe. As respostas são muitas, mas só a experiência da vida sublima o momento da morte e, na verdade, morrer não é a etapa mais importante de nossas vidas, é apenas a inevitável.

Outra forma de fazer os dias serem incríveis é viver bem consigo mesmo. Viver – e só – consigo.  Esta experiência as pessoas procuram sempre evitar, mas é, de certa forma, a que mais se projeta em nossos corações e mentes. Não acreditamos na superação que não vem do nosso afastar gradativo das nossas impressões. Hoje as pessoas têm twitter pra falar coisas que não são elas mesmas. Procure, se o tem, expressar sentimentos. As pessoas sentem-se mais à vontade pra dizer a milhares de pessoas o que comeram no jantar, se estão nuas  ou vestidas, se defecaram hoje, do que admitir que amam a alguém, do que falar o que as magoou naquele dia. Parece que o escárnio é a marca número 1 dentre todos os que possuem contas no twitter. Conviver consigo mesmo é uma arte, porque sempre é mais fácil falar de outrem do que de si próprio. Vale confiar em seus instintos, não ter medo de sentir. Você pode sentir! Não precisa falar pra ninguém, mas precisa admitir para você mesmo a existência de coisas como sentimentos, como afeto, ou, melhor ainda, precisa perder o medo de tocar no fundo da alma e descobrir quais as dores que te fazem mais humano.

Cada um de nós despreza muitos dos momentos que passa junto daqueles com quem não mais poderá passar um dia sequer muito provavelmente. As pessoas esperam que suas vidas sejam como um filme de Hollywood e esquecem da beleza do singelo, da segurança do constante e do valor da presença. Mesmo aqueles que possuem muita popularidade se sentem só. Mesmo quem está só pode ser muito feliz e tudo isso depende de como você vivencia cada insignificante segundo da sua vida. Somos quem podemos ser, já dizia a música. O que nos define, entretanto, é a nossa força para caminhar rumo a este ideal.

E eu não falo, pra terminar, em  arroubos de originalidade, em formas inusitadas de dizer à vida que a ama. Na verdade, reconhecer o valor do singelo, daquilo que materialmente é segundo temporal em nossa vida, é simplesmente olhar diferente para quem se está acostumado a viver. É descobrir no seu colega de faculdade um trejeito que lhe agrada, um sorriso. É ajudar alguém, ainda que seja em pegar uma caneta do chão. É ouvir “obrigado” com o coração e não com a conveniência. É não responder o cumprimento, mas sorrir, em demonstração de que sempre estará lá pra ajudar. É atender a um telefonema que tem evitado há muito tempo e na sua bagunça encontrar coisas que pra você já não valem nada, mas podem ser, ao mesmo tempo, lembrança e conforto para alguém.

Valorizar o pequeno não é engrandece-lo, mas reconhecer-se dentro dele.


Sílvio


@blog_192001

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