Reputação


As pessoas se preocupam demais com a própria reputação. Sou suspeito pra falar porque às vezes eu reconheço que o pensamento dos outros a meu respeito importa. Outro dia li no meu email uma frase que dizia mais ou menos assim: “preocupe-se com a sua consciência, porque a reputação é aquilo que os outros pensam de nós, a consciência é aquilo que nós pensamos a nosso respeito” – paráfrases não são mesmo o meu forte.
Não sei se a pessoa que escreveu a frase tinha consciência da dimensão que ela alcançaria, mas acredito que, depois dela, pensar reputação é cada vez mais mediado pela auto-imagem, pelo individualismo em detrimento da coletividade. Em nossos tempos pós-modernos (eu defendo a pós-modernidade), quase tudo já foi relativizado: a fé, a moral, as relações familiares, as relações amorosas... por que será que a reputação ainda não?
 Quando as pessoas passam a pensar a sua imagem, é difícil negar que invariavelmente, elas o fazem pensando no que os outros vão ver ali. E não digo que isso seja errado, afinal, Baudelaire já dizia que o “homem que vive entre feras, fera também será”. Mas acho que, quando não é uma atitude poser, é certo que a originalidade ainda vence o lugar-comum. Quando pensamos na nossa reputação, o olho do outro sobre a nossa própria vida assusta, causa receio, medo. Em certo grau, isso pode até ser considerado patogênico.
Reputação é um bem. Mas, assim como determinados bens, pode ser customizado, trocado, desde que esse processo não seja reflexo de uma imposição. Freud, no século XIX, já nos advertia sobre esse mal. Reputação é importante, mas não é fim, é processo. Quando alguém leva uma vida baseada somente na reputação, assim como num preconceito, as demais qualidades deste acabam sendo anuladas – e a reputação é frágil, basta o primeiro erro pra ela nunca mais voltar a ser a mesma.  Quando alguém paga pela sua reputação, sobra pouco o que reabilitar.  Reputação não se conserta, mas pode ser substituída.
 Cristo, em diversos momentos da Bíblia nos instruía a amar o próximo como a nós mesmos. E não mencionou nada sobre reputação ser o principal critério nesse processo. “Diz-me com que andas que te direi quem tu és” é um provérbio bíblico muito forte, porém, ambíguo... 
Nos nossos dias, a nossa consciência anda sendo cada vez menos acessada. Nós, seres humanos, estamos em uma constante evolução natural, como tudo, aliás, na terra. Na nossa busca pelo ideal como indivíduos, evitamos a dor, prolongamos o prazer. Quando a consciência for considerado algo contra-evolutivo, nossa sociedade estará, positivamente, a um passo da extinção. Mas a mudança que prejudica, ajuda também, e quem sabe os nossos valores com o tempo não mudam? Ficam as preces em prol disso.

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