Quando superar é aceitar – ou tratado sobre a tolerância na nossa vida cotidiana



Nossas incertezas são traiçoeiras. Elas nos levam forçar um entendimento das coisas dentro de rumos que nem sempre elas tomam, com base em suposições, juízos de valor, que conseguimos emitir ao nosso respeito e aos demais, sem nem mesmo estarmos sintonizados com aquilo que realmente acreditamos ser merecedores. Em geral, quando se trata de incertezas, somos maus jogadores, pois só marcamos pontos contra. Mas, se as nossas incertezas fazem parte daquilo que somos,  como lidar com este ente malfadado?

Bem, as soluções aos nossos problemas de personalidade, assim como a própria personalidade em si, tendem a ser individuais. É disso que se trata este blog. Não existe o remédio de caixinha que vai te trazer segurança, fazer acreditar naquilo que você é e te dar a medida exata dos seus limites. Pra conseguir isso, somente trabalhando seu caráter, acreditando nas pessoas – mesmo em situações que parecem impossíveis – e tolerando.

Nossa! De todos os remédios , talvez a tolerância seja o mais amargo pois depende da nossa capacidade de ceder o espaço próprio, aquele necessário às nossas necessidades, para o outro, para suas excentricidades, defeitos e manias. As dores da tolerância nos atingem no ego, mas transformam nossa capacidade de ver o mundo. Numa visão mais positiva da situação, tolerar se compara a uma cirurgia: uma medida radical de resultados arriscados, mas de enormes benefícios quando bem sucedida.

Às vezes a nossa sanidade mental, nosso emprego, as aulas da faculdade e o relacionamento familiar (sobretudo este) dependem,  em muito, da capacidade que se tem de tolerar. Nota: quanto mais cedo se aprende o valor dessa característica, mais rápido se percebe que o seu lugar no mudo não é enfraquecido, mas consolidado. Seus limites são impostos para que você descubra o que há além daquilo que se conquistou. Se perder espaço é ruim, ganhar um novo ponto de vista pode ser positivo. Cultivar uma cultura diferente, sentir alguém de maneira distinta do que naturalmente a gente sente pode ser um caminho certo para uma conquista valorosa e muito gratificante.

Confiar em si próprio é não ter motivos para temer aquilo que nos torna humanos: a capacidade de manter viva a chama da sociabilidade. Por isso, caro leitor, quando chegar à estas palavras, pense bem naqueles que você, literalmente, não suporta. Quem sabe não é justamente eles que irão te ensinar uma nova maneira, ainda que não seja a mais adequada, de compreender-se, compreender o próximo e crescer como pessoa?
Ninguém é obrigado a nutrir empatia por ninguém. Ninguém precisa dessa simpatia, mas todos têm, por obrigação, senão cristã, moral e humana de  conviver com o outro. Nem os ermitões consideram  positivo o isolamento por si, só. Relembrando a  fábula dos porcos-espinhos da era glacial, nossos espinhos acabam por marcar a nossa personalidade, tornando-nos pessoas mais ou menos suportáveis, a depender da capacidade dos outros de suportar  a dor que lhes infringimos.

Confiar, ter tolerância nem sempre é certeza de se conseguir ser feliz, realizar aquela meta pessoal, nem de  alcançar uma auto descoberta reveladora, é verdade. Mas, quando crescemos, tendemos a tomar o mundo pela nossa medida, o que nos leva a um fosso enorme de nós mesmos. Ser para si o máximo, convém lembrar, não exclui o fato de sermos considerados o fardo de alguém. Tolerar implica em ver questões como estas com mais abertura e jogo de cintura para contorná-las.

Silvio
silvio.superboy@gmail.com

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