Percebemos quando as pessoas se importam com a gente pela forma de olhar. Dificilmente um olhar engana. Os olhos não sabem, dissimular. Quanto mais somos vistos, mais julgamentos sofremos – e esperamos sofrer – das pessoas que passam seus olhos sobre nós. Sempre nos incomoda o jeito com que o outro nos percebe e talvez por isso, a nossa percepção dos outros acaba determinada por isso. Vemos nossos pais de um jeito, amigos de outro, inimigos... todos segundo seus olhares, como a cada caso uma justiça distinta. Não é seguro nem moral pensar a nossa maneira de agir sem antes educarmos nossos olhos.
A mesma dor que sentimos queimar no peito quando sofremos exclusão é aquela que podemos aliviar no peito do próximo quando tão somente o tratamos como reais, com a honestidade que essas pessoas precisam. Por mais que se goste de alguém, certas mentiras, certos falsos olhares acabam denunciando a natureza de verdade desse gostar. As conseqüências são complicadas de s administrar e, por vezes, nos deparamos com o pesado fardo de recomeçar tudo sozinho. Outra vez.... outra vez... outra vez....
Os dias se sucedem e, quando estamos com os nossos amigos, mal conseguimos perceber essa passagem, tão rápida que ela se processa. Quando acreditamos estar felizes, quase sempre tendemos a enaltecer nosso ego no palco das palmas dos nossos companheiros d jornada. Muitos têm muitos. Entretanto, quando chega a hora de pensar no nosso papel pro mundo, na nossa forma de contribuir, na nossa dívida, o resultado quase sempre é o ataque daquele vazio que sentimos, que queremos preencher com qualquer coisa, ainda que tal coisa não nos seja benéfica – e segue-se assim como num círculo sem controle.
Quando nos rodeamos pelas pessoas que gostamos, somos bem tratados e recebemos muitas energias positivas, oriunda dos bons agouros que nos chegam por intermédio dos nossos camaradas. Mas, como eu mesmo já pude sentir na pele, quando os nossos companheiros nos deixam, a gente se sente como árvores de uma cidade. Isolados num contexto sem que haja, no entanto, um proveito disso.
Digo, sair da zona de conforto, por mais dificultoso e complicado que seja, constitui ainda uma boa saída, um caminho a ser seguido rumo ao crescimento pessoal. Temos dificuldades naturais relacionadas às nossas carências e deficiências. Quando superamos, em parte, o medo de não receber o apoio necessário quando precisamos, nos fortalecemos. Esperar o pior às vezes é preparar-se para ele.
Como árvores de cidade são pessoas que têm conflitos e problemas os quais, por medo, preguiça ou ainda insegurança, não são superados. Os nossos amigos servem para nos prestar auxílio quando nos encontramos em dificuldades, mas não são, em todos os casos exclusivamente, uma panacéia, ou ainda, não podemos esperar dos nossos amigos, um cuidado que não lhes compete ter.
Nossas inseguranças e medos são nossa responsabilidade, também. Não há que se anular, esquecer-se dentro de um suposto invólucro de segurança para não crescer. Neste sentido, com árvores de cidade, que possuem os cuidados e as delicias de uma vida segura, esquecemos das surpresas e intempéries que o tempo nos delega – tão logo ele nos cobra esse aprendizado, nos vemos tolhidos pela sua força.
Sílvio
(silvio.superboy@gmail.com)
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